segunda-feira, 1 de julho de 2013

A Representação do Fogo Na Divina Comédia, de Dante Alighieri, Em Analogia Com Textos da Bíblia

A Representação do Fogo Na Divina Comédia, de Dante Alighieri,
 Em Analogia Com Textos da Bíblia
          Laura Cristina Mendes Durães1
Dorival Souza Barreto Junior2


 O presente artigo, fruto do projeto de pesquisa: Estética e Religião, Estudo Comparativo entre textos da Bíblia e a Literatura tem como objetivo analisar a representação do fogo na Divina Comédia, de Dante Alighieri, em analogia com os textos bíblicos (Gn 19,24; Gn 38,24; Nm 11,1; Ap 8,7 e Mt 7,19). Neste trabalho enfatizaremos a representação do fogo como punição presente na primeira parte do poema, o Inferno. Para alcançar tal objetivo foi realizada uma pesquisa de cunho teórico bibliográfico e de caráter comparativo, analisando artigos, resumos, resenhas, livros e teses relacionados a obra dantesca, juntamente com a leitura feita do livro estudado, da Bíblia, e de dicionários bíblicos, delineando neles a representação do fogo, comparando-o com textos da Sagrada Escritura.



Palavras-chave: fogo, punição, inferno, Dante, textos bíblicos.


This article which is the result of the research project ‘Aesthetics and Religion, a Comparative Study between Bible texts and literature’ aims to analyze the representation of fire in the ‘Divine Comedy’ by Dante Alighieri in analogy to the biblical texts (Genesis 19.24; Gen. 38.24; Nm 11.1, Ap 8.7 and Mt 7.19). In this paper we emphasize the representation of fire as punishment in this first part of the poem - Hell. Since we conducted a survey of theoretical literature and comparative data analyzing articles, summaries, reviews, books and theses related to Dante’s work along with the reading taken from the studied book from the Bible, and Bible dictionaries, we outlined their representation of fire, comparing it with texts of the Sacred Scripture.




             Keywords: fire, punishment, hell, Dante, biblical texts






A representação é uma forma de apresentar uma ação, é uma forma que encontramos para explicar algo imaginário, ou real como a realidade que vivemos, como ressalta Daniel Lula Costa:


                                                    [...] as tentativas feitas para decifrar diferentemente as sociedades, penetrando o dédalo das relações e das tensões que as constituem a partir de um ponto de entrada particular (um acontecimento, obscuro ou maior, o relato de uma vida, uma rede de práticas específicas) e considerando que não há prática ou estrutura que não seja produzida pelas representações, contraditórias e afrontadas, pelas quais os indivíduos e os grupos dão sentido a seu mundo[1]

Baseando-se nesse conceito propomo-nos a estudar a representação do fogo, descrita no “Inferno” de Dante e compará-la com textos da Sagrada Escritura, pois a representatividade do fogo na obra pode estar ligada a realidade que Dante vivia.
Nesse sentido é importante ressaltar Erich Auerbach que considera a “Divina Comédia” como:
                                              Uma obra de arte imitativa da realidade, na qual aparecem todos os campos     concebíveis da realidade; passado e presente, grandeza sublime e desprezível vulgaridade, história e lenda, tragédia e comédia, homem e paisagem; é, finalmente, a história do desenvolvimento e da salvação de um único homem, Dante, e como tal, uma história figurativa da história da salvação da humanidade em geral[2]



A Divina Comédia é um poema composto por um canto introdutório e por três partes: o Inferno, o Purgatório e o Paraíso, sendo que nessas três partes é narrada a maravilhosa jornada que Dante realizou, consumindo-se sete dias (dois no Inferno, quatro no Purgatório e um no Paraíso). Nessa jornada o poeta encontrou muitas personagens históricas, bíblicas e mitológicas com quem aprendeu vários conceitos importantes para sua ascensão espiritual e racional, a começar por Virgílio, poeta latino que o guiará pelo Inferno e pelo Purgatório a pedido de Beatriz, sua amada que será sua guia no Paraíso. 
O poema dantesco é repleto de significados alegóricos e morais, neste trabalho enfatizaremos a representação do fogo (símbolo bíblico) como castigo na primeira parte do poema, o Inferno, estabelecendo analogia com os textos bíblicos: Gn 19, 24-25; Gn 38,24; Nm 11,1; Ap 8,7 e Mt 7,19, em que o fogo aparece com o objetivo de castigar. Em Gênesis (19,24-25) temos a descrição da destruição das cidades de Sodoma e Gomorra, junto com seus habitantes e suas vegetações por uma chuva de enxofre e fogo, que o Senhor (Deus) fez cair sobre essas cidades para punir seus habitantes, que haviam se afastado da sua palavra. “O senhor fez então chover do céu enxofre e fogo sobre Sodoma e Gomorra. Destruiu as cidades e toda a região, junto com os habitantes das cidades e até a vegetação do solo”.
   Já em Gênesis (38,24), Judá ordena que a sua nora seja queimada por ter se prostituído. “Passado uns três meses, comunicaram a Judá: “tua nora Tamar prostitui-se e, em conseqüência, está grávida.” Judá respondeu: “Trazei-a para fora para que seja queimada”.  
Em Números (11,1) quando o povo blasfema contra o Senhor, esse irrompe contra eles o fogo que devorou uma extremidade do acampamento, “O povo começou a murmurar contra o Senhor. Ao ouvir, o Senhor inflamou-se de ira. o fogo do Senhor irrompeu contra eles e devorou uma extremidade do acampamento”.
 No Apocalipse de João (8,7) quando o anjo tocou uma trombeta caíram sobre a terra granizo e fogo misturados com sangue, queimando a terça parte da terra e das árvores, e toda a erva verde, castigando assim a humanidade. “o primeiro anjo tocou, e cairam sobre a terra granizo e fogo misturados com sangue. A terça parte da terra da terra foi queimada, a terça parte das árvores foi queimada, e toda a erva verde foi queimada”.
Em Mateus (7,19), Jesus fala que toda árvore que não dá bons frutos é cortada e lançada ao fogo, ou seja, toda pessoa que não é boa, que não cultiva os “bons frutos”, amor, carinho, solidariedade é lançada ao inferno. “Toda árvore que não dá bons frutos é cortada e lançada ao fogo”.
O Inferno é onde Dante, guiado por Virgílio, se depara com os diferentes pecados, com os castigos e punições para esses pecados, com os sofrimentos dos condenados, com rios e cidades infernais, com monstros e demônios até chegar onde vive Lúcifer (satanás), anjo rebelde reduzido a um monstro com três bocas, e cada uma delas morde um dos maiores traidores da história: Júdas, Cássio e Brutos. Sendo que os condenados são separados de acordo com a gravidade dos seus pecados, nos primeiros cantos são descritos aqueles que cometeram os pecados considerados menos graves, até chegar aos mais graves descritos nos últimos cantos. Para Auerbach o reino infernal comporta uma divisão, “segundo a medida da sua má vontade e, dentro desta divisão, segundo a gravidade de seus pecados” (AUERBACH, 1994, p.165).
Dante dividiu o inferno em nove círculos de sofrimentos, que se tornam mais profundo a cada círculo, pois os pecados vão aumentando a gravidade a cada círculo que os poetas passam. No primeiro círculo está o Limbo, onde estão as almas daqueles que não foram batizados, pois viveram antes da vinda de Cristo, entre eles estão os poetas: Virgílio, Horácio, Homero e Lucano.
 No segundo círculo está Minos, que julga os pecados dos mortos e condena os a um círculo do reino infernal. No terceiro círculo estão os pecadores por gula, que são punidos com uma chuva misturada de saraiva e neve, e guardados por Cérbero, monstruoso cão com três cabeças e com o apetite insaciável, que vive sempre latindo e mordendo os condenados.
No quarto círculo estão os avarentos e pródigos guardados por Pluto, demônio da riqueza, sendo que os condenados são divididos em dois grupos que empurram fardos contra o outro até se encontrarem violentamente. No quinto círculo estão os Iracundos (cheio de Ira) que se encontram dentro do rio Estige, imersos na lama ardente. Já no sexto círculo os poetas encontram-se na cidade de Dite, cercada pelo fogo e guardada por demônios. Nesse círculo são condenados os hereges e incrédulos que estão em túmulos de fogo.
O sétimo círculo é guardado por Minotauro, onde estão condenados os violentos que são distribuídos por três vales, sendo o primeiro o dos violentos contra o próximo, que estão mergulhados no rio de sangue fervente, o Flagetonte. O segundo é destinado aos suicidas que foram transformados em árvores, onde pousam as harpias (aves de rapina que alimentam das folhas das árvores), causando sangramentos e muita dor nos condenados. E no terceiro estão os violentos contra Deus, a natureza e arte que são castigados com uma chuva de ardentíssimas flamas (chamas).
O oitavo círculo é chamado de Malebolge, onde estão condenados dez espécies de fraudulentos, cada espécie com uma punição diferente. No nono círculo estão condenados os traidores, o qual se reparte em quatro esferas. Na primeira, Cairia, estão aqueles que traíram seus próprios parentes, que estão apenas com a cabeça e o tórax fora do gelo. Na segunda Antenora estão aqueles que traíram a pátria, sendo que tem apenas a cabeça fora do gelo. Na terceira Ptoloméia estão punidos os traidores de seus hóspedes, que apenas o rosto não foi coberto pelo gelo. A última esfera é a Judeca, onde reside Lúcifer, e onde são punidos os traidores de seus benfeitores que estão totalmente imersos no gelo.
O inferno é um lugar aterrorizador, de muitos sofrimentos, de punição que geralmente é representado pelo o fogo, como um lugar quente, de calor insuportável. Nesse sentido é importante ressaltar Marc Girard: “o fogo do inferno simboliza mais a horrível angustia de um vazio total de sentido e um fracasso irremediável” [3] O fogo é um elemento bíblico que abrange vários significados, podendo ser um meio de purificação, de salvação, de manifestação divina, de punição, e pode ser usado metaforicamente. Para Girard no fogo podemos reconhecer três propriedades básicas: a que ilumina, a que queima e a que aquece. Nesse trabalho enfatizaremos a que queima com a finalidade de destruir, sendo que esse fogo que queima pode destruir, purificar e regenerar como ressalta Girard:

                                     Quando o calor se torna mais intenso do que um objeto pode suportar, o fogo queima. Ele desprende combustão, a fumaça, entre outros. O efeito combustão pode ser triplo: destruidor, purificador e regenerador. Compreendem-se logo, de certo ponto de vista, a nocividade do primeiro efeito e a utilidade dos outros dois[4].

No Inferno dantesco percebemos o fogo como punição a partir da descrição da cidade de Dite, uma cidade cercada pelo fogo, e que comporta uma divisão entre os pecados cometidos sem culpa e os cometidos conscientemente, os mais graves. Sendo que só a partir da descrição dessa cidade temos manifestações do fogo como castigo, com o objetivo de punir aqueles que praticaram o mal, ou seja, a representação do fogo como punição está entre os pecados mais graves.

                        “Esta de sepulcros desigual a incerto
    O solo: outros assim a estância feia,  
     Mas de modo mais agro, tem coberto 
Entre eles chama horrífica serpeia    
    E os abrasa inda mais que frágua ardente   
    Que arte para amolgar o ferro ateia (...)[5]   
                                                    



Nesse trecho são castigados os hereges e incrédulos que são aqueles que em vida não acreditaram na existência de Deus, e de Jesus como seu filho, e negaram a sobrevivência da alma após a morte corporal, os seguidores da doutrina do filosofo grego Epicuro, eles são condenados a “viverem” eternamente em túmulos de fogos.
Os violentos contra Deus, contra a natureza e contra a arte são punidos com chuva eterna de ardentíssimas labaredas, chamas, como podem observar no trecho:

“Largas flamas com tardo movimento
      Choviam do areal em todo o espaço,
      Qual neve em serra, quando é mudo o vento (...)
Cada qual sem repouso se estorcia
       A um lado e a outro os braços revolvendo
       A cada chama, que do ar chovia”
              (ALIGHIERI, 2002, p.88)

Fica claro nesse trecho que os condenados não tinham repouso, eles ficavam movimentando os braços com intenção de se desviar das chamas que caiam do ar.
O fogo está presente também no castigo dos Simoníacos, traficantes de artefatos sagrados que são punidos de forma que permanecem de cabeça para baixo, aparecendo apenas as pernas do derradeiro dos condenados, cujas plantas dos pés ardem em chamas:  
“Stavam ardendo as plantas na tortura,  
    E tanto as juntas rijo se estorciam,   
    Que romperiam a prisão mais dura.
Do calcanhar aos dedos percorriam
    As chamas, como a superfície inteira    
    Em corpo de óleo ungido morderiam.”
               (ALIGHIERI, 2002. p.111)

 Assim como os Simoníacos, os Barateiros, oficiais públicos peitados no exercício dos seus cargos, são castigados por meio do fogo, eles estão mergulhados em lago de pés fervente, como pode ser constatado no trecho:: “Mas no pez, só na tona eu distinguia / Borbilhão, que a fervura levantava, / Que ora inchava, ora rápido se abatia” (ALIGHIERI, 2002, p.120).
Outra descrição importantíssima sobre os castigos por meio do fogo no Inferno dantesco é o dos conselheiros fraudulentos, entre eles Ulisses e Diomedes, reis gregos celebrizados por Homero nos poemas: Ilíada e Odisséia. Antes de descrever como se encontram os reis gregos no Inferno, Dante faz alusão ao texto bíblico que o profeta Elizeu viu Elias sendo arrebatado para o céu em um carro de fogo, “Então, enquanto andavam conversando um carro de fogo e cavalos de fogo os separaram um do outro, e Elias subiu ao céu num redemoinho” (REIS 2, 11, BÍBLIA SAGRADA), como pode ser observar no trecho: “Como aquele que de ursos foi vingado, / Quando de Elias voou o carro ardente, / Ao céu por frisões ígneos transportado” (ALIGHIERI, 2002, p.145). Ao fazer essa alusão, Dante descreve que viu inúmeras chamas, em cada chama um conselheiro fraudulento. É como se o poeta advertisse assim como Elias desapareceu por meio do fogo, toda alma também é escondida por um fogo “oculto”. Como podemos notar trecho:
                   “Assim naquele abismo se agitando
       As flamas via: em cada qual estava
       Uma alma, em seus fulgores se ocultando (...)
 O Mestre, ao ver que a mente se embevece,
       “Em cada fogo”- diz-me -“um condenado,
         Como em habito envolto, arde e padece”
             (ALIGHIERI, 2002, p.145)

Essas “chamas escondem a alma daqueles que usaram o intelecto para enganar de maneira deliberada, levando os outros a se perder por meio da eloqüência e da esperteza” (REYNOLDS, 2011, p.275). Respectivamente Ulisses e Diomedes, como são percebidos no trecho: “- “Estão lá dentro dessa flama dirá / Diomedes e Ulisses: em castigo / Sócios são, como outrora hão sido em ira” (ALIGHIERI, 2002, p.146).
Percebemos nesses trechos citados do Inferno dantesco que o fogo seja como labareda, chama ou larvas, se manifesta com o intuito de punir, castigar aqueles que não agiram bem, quando estiveram “vivos”, ou seja, antes da morte corporal. Estabeleceremos uma comparação desse fogo que pune, nos textos bíblicos: Gn 19, 24-25; Gn 38,24; Nm 11,1; Ap 8,7 e Mt 7,19 baseando-se no conceito de Literatura Comparada defendido por Ilva Maria Bertola Boniatti:

                                                  A literatura comparada é arte metódica de, através da pesquisa                             das relações de analogia, afinidade e influência, aproximar a literatura dos outros domínios da expressão ou do conhecimento ou, ainda, os fatos e textos literários, entre eles, distantes ou não no espaço, desde que pertençam a várias culturas, estas fazendo parte de uma mesma tradição, a fim de melhor descrevê-las, compreendê-las e apreciá-las.[6]



             Lançando mão desse conceito e de um raciocínio comparativo procuramos descrever os pontos convergentes, as semelhanças entre os textos literários.
Em Gêneses (19,24-25) percebemos que o Senhor castiga aqueles que haviam afastado da sua palavra com uma chuva de enxofre e fogo, no Inferno dantesco os violentos contra a natureza, contra Deus e contra a arte são punidos também por uma chuva de fogo.
O fogo punitivo está presente em Gêneses (38, 24), pois Judá manda trazer a nora para ser queimada, por ter se prostituído, assim como no Inferno descrito por Dante, onde os hereges e incrédulos são castigados a “viverem” eternamente em túmulos de fogo.
Esse fogo que pune está presente também em Números (11,1), pois fogo do Senhor irrompe contra os blasfemadores devorando uma parte do acampamento, e em Apocalipse de João (8,7), sendo que quando o anjo tocou a trombeta caíram sobre a terra granizo e fogo misturados com sangue, punindo a humanidade. Assim como no “Inferno” os conselheiros fraudulentos são punidos por meio do fogo, suas almas estão dentro de chamas.
Em Mateus (7,19) Jesus fala que a árvore que não dá bons frutos é cortada e lançada ao fogo, ou seja, todas as pessoas que não são boas, que não praticam “o bem” são lançadas ao fogo do inferno. Nesse sentido podemos considerar que as pessoas punidas no Inferno dantesco pelo fogo, são pessoas más que não cultivaram os bons frutos: amor, carinho, solidariedade, etc. Por isso estão sendo castigadas.
Ao analisarmos a representação do fogo no Inferno, da Divina Comédia de Dante Alighieri em analogia com os textos bíblicos: Gn 19, 24-25; Gn 38,24; Nm 11,1; Ap 8,7 e Mt 7,19 constatamos que há uma comparação entre as duas obras, uma vez que a representatividade do fogo no “Inferno” se manifesta como punição do condenado, que será  eternamente punido por um fogo que destrói, que castiga e que é fonte de dor. Assim como nos textos bíblicos analisados o fogo desempenha as mesmas características de punir, castigar e causar dor, sofrimento.
Constatamos também que a representatividade do fogo no Inferno dantesco pode estar ligada a realidade em que vivia o poeta, pois Dante viveu no Período Medieval que dominava os ensinamentos cristãos, por exemplo, o medo pelo maligno e quem não praticasse o “bem” era eternamente punido no inferno por demônios e por fogo. Uma vez que a “Divina comédia” é uma obra “baseada no imaginário que envolvia as representações coletivas medievais e na concepção de mundo da Igreja Católica” (COSTA, 2011, p.2).

Numa visão geral é possível constatar que podemos ampliar o debate entre a representação do fogo na Divina Comédia em analogia com textos bíblicos, uma vez que analisamos apenas os pontos convergentes entre as duas obras, por isso seria interessante trabalhamos os pontos divergentes também.

  
REFERÊNCIAS

ALIGHIERI, Dante. Divina Comédia. Tradução: J.P. Xavier Pinheiro. 7ª reimpressão. São Paulo: Martin Claret, 2002.
AUERBACH, Erich. Mimeses: A Representação da realidade na Literatura Ocidental. 3ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1994.
BERTÈ, Débora. Dante: da danação a salvação, o mesmo Inferno. Porto Alegre: UFRGS, 2011. 53f. Trabalho de Conclusão do Curso (Licenciatura em História). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2011.  
BÌBLIA SAGRADA. 8ª ed. São Paulo: Canção Nova, 2008.
BONIATTI, Ilva Maria Bertola. Literatura Comparada: memória e região. Caxias do Sul: EDUCS, 2000.
BRITO, Emanuel França. A insaciável sede de saber na Comédia de Dante. Algumas relações com a incontinência aristotélica. 2010. 108f. Dissertação (Mestrado)- Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2010.
COSTA, Daniel Lula. A representação do sétimo círculo no inferno dantesco. ANAIS DO III ENCONTRO NACIONAL DO GT HISTÓRIA DAS RELIGIÕES E DAS RELIGIOSIDADES – ANPUH -Questões teórico-metodológicas no estudo das religiões e religiosidades. IN: Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá (PR) v. III, n.9, jan/2011. ISSN 1983-2859. Disponível em http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pub.html
GIRARD, Marc. Os Símbolos na Bíblia: ensaio de teologia bíblica enraizada na experiência humana universal. Tradução, Benôni Lemos. São Paulo: Paulus, 1997.  
MCKENZIE, John L. Dicionário Bíblico. Tradução, Álvaro Cunha et al. São Paulo: Paulus, 1983.
REYNOLDS, Barbara. Dante. Tradução, Maria Helena Siqueira Madureira. São Paulo: Record, 2011.





[1] (COSTA apud CHARTIER, 2011, p.7).
[2] (AUERBACH, 1994, p.164).
[3] (GIRARD, 1997, p. 163).
[4] (GIRARD,1997, p.90).
[5] (ALIGHIERI, 2002, p.66).

[6] (BONIATTI apud PICKOIS e ROUSSEAU).

segunda-feira, 17 de junho de 2013

As Vanguardas Européias

As Vanguardas Européias

O Futurismo nasceu dos princípios expostos no Manifesto Futurista de Filippo Tommaso Marinetti, sendo um movimento que procurava imprimir na poesia uma velocidade que já era percebida no progresso, eliminando tudo que “ornava” a palavra, rompendo com sintaxe em relação à supressão da pontuação e o encadeamento das palavras sem o uso de conectivos. Enquanto o Expressionismo é arte criada sob o impacto da expressão, mas da expressão da vida interior, das imagens que vem do fundo do ser e manifesta de forma patética. Sendo que não preocupação com a objetividade da expressão, mas sim com a exteriorização da reflexão e da subjetividade dos artistas, pois não se pretende apenas absorver e reproduzir o mundo, como também recriá-lo.
O Cubismo é a vanguarda que se caracteriza por representar a realidade através de figuras geométricas, sendo que os cubistas representam objetos da realidade cotidiana como se fossem vistos a partir de diferentes ângulos ao mesmo tempo, produzindo assim várias interpretações. Já o Dadaísmo procurava romper com os padrões estéticos, com aquilo que era considerado belo, enfatizando um desejo de independência. Estudar as Vanguardas Européias foi muito importante, pois o Cubismo, Surrealismo, Expressionismo, Dadaísmo, e Futurismo contribuíram para uma inovação na arte literária brasileira, principalmente no período pré-modernista.






domingo, 2 de junho de 2013

Macunaíma de Mário de Andrade

Macunaíma de Mário de Andrade
Ao comparar o filme Macunaíma com o livro percebemos muitas diferenças, uma vez que o filme não é totalmente fiel ao livro, por exemplo, a cena da morte da mãe de Macunaíma é bem diferente no livro, ou seja, no filme não é tão visível às características do folclore brasileiro, das lendas indígenas.
 Macunaíma é um herói criado a partir de contos populares e está ligado a personagens do folclore brasileiro, sendo que está presente na obra elementos da mitologia indígena, o folclore nacional, a nossa língua falada, os costumes brasileiros. Macunaíma é uma rapsódia, uma vez que se caracteriza pelo acolhimento e assimilação de elementos variados de nossa cultura. Por esse caráter multifacetado, Macunaíma é representação de nossa identidade, o multiculturalismo brasileiro, pois valoriza as raízes brasileiras e a linguagem dos brasileiros, buscando aproximar a língua escrita ao modo de falar paulistano.
Macunaíma é um anti-herói, porque ele não age de acordo com a ética, ele foge a certos padrões de comportamentos considerados corretos, faz coisas absurdas, judia e ama ao mesmo tempo as mulheres, come sem trabalhar, “xinga”, entra em briga, prega peça em todo mundo, mas ele tem alguns dons mágicos e uma sorte fora do normal, é preguiçoso, mas consegue tudo o que quer.  Macunaíma “o herói sem caráter” e é também "o herói de nossa gente" por retratar, a partir dos traços múltiplos e contrastantes que o caracterizam, a coletividade brasileira, formada pela miscigenação racial e cultural, enfatizando os defeitos do povo brasileiro.
“Macunaíma” de Mário de Andrade nasceu em plena primeira fase do Modernismo, movimento de vanguarda que desejava recriar a arte brasileira, criando uma identidade de expressão genuinamente nacional. Sendo que no livro Macunaíma, encontramos a ausência de vírgulas, numa série enumerativa, normalmente se referindo às riquezas brasileiras. A ruptura da sintaxe e da pontuação que é uma característica do modernismo, recurso do futurismo.
REFERÊNCIAS

terça-feira, 30 de abril de 2013

O SIMBOLISMO NO BRASIL


O Simbolismo chegou ao Brasil em 1893, com a publicação das obras Missal (prosa) e Broquéis (poesia), ambos de autoria de Cruz e Sousa, e se estende até 1922, quando se realizou a Semana da Arte Moderna.
O Brasil foi um dos poucos lugares em que o Simbolismo não triunfou, permanecendo sempre abafado, marginalizado pelo reinante estilo parnasiano. No entanto, a poesia simbolista produziu no Brasil uma quantidade e uma variedade muito grande de poetas, salvos do esquecimento pela gigantesca obra Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro (1952), de Andrade Muricy. O escritor e intelectual Medeiros e Albuquerque (1867-1934) é reconhecido como o introdutor no Brasil das obras dos simbolistas franceses. Em 1887 manda buscar na França, por um "amigo mallarmista", obras de Verlaine e Mallarmé, entre outros. Logo, diversos poetas por todo o Brasil estariam, ainda que sem o prestígio da poesia parnasiana, dedicando-se a seguir a nova poesia antirrealista.
Referências:

domingo, 7 de abril de 2013

O SIMBOLIMO



O texto de Anna Balakian é de extrema importância para compreendermos o movimento simbolista, sendo que ela salienta que o termo “simbolismo” tornou-se um rótulo para designar o pós-romantismo, e que todos os escritores vão construir através da matéria-prima: a palavra. É importante destacar que esses escritores viam a palavra como uma espécie de deusa (religião), a qual eles deviam obediência. O Simbolismo priorizava a sinestesia, fazendo analogias de sentido. Nesse movimento há uma sobreposição de vários sentidos misteriosos e escondidos atrás das aparências. Baudelaire é uma das fontes do Simbolismo, dentro das suas principais características destaca-se sua diversidade, sua real ausência de traço saliente, a reversibilidade e multiplicidade de caráter.
A relação que se estabelece entre o Simbolismo e a música, é que música clássica é imprecisa, sua melodia significa para cada um algo diferente, e a poesia simbolista é vaga, imprecisa e as próprias palavras que vão produzir sua melodia, a musicalidade emerge do próprio texto, e sua melodia também pode ser entendida por cada um de modo diferente.
É importante destacarmos que o “espírito decadente” no Simbolismo caracteriza o estado interior do poeta, e esse estado se exterioriza em sua poesia através da ruína do mundo, demonstrando o descompasso entre o poeta e a realidade que o cerca.
Todas essas características abordadas por Balakian vêm enriquecer nossos conhecimentos e promover uma interação com esse mundo fantástico da literatura.

Filme: Abril Despedaçado



O filme: Abril Despedaçado é muito bom, pois nele é possível verificar várias características do Movimento Simbolista, e instiga profundas reflexões, por exemplo, as discussões sociais levantadas, como a situação de violência em que se encontram os personagens, vivendo sobre a imposição da tradição, deixando de curtir os prazeres da vida.
Os personagens vivem no meio do sertão, suas casas são sujas e barrentas, suas roupas encardidas. Eles não sentem alegria, eles não sorriem, vivem na mesmice de ações e comportamentos repetitivos, repetem gestos, palavras, ações, e nada avança, pelo contrário, o que ocorre é a regressão, ou seja, a vida estancou, parou, como o “Menino Pacu” disse no filme: “A gente parece boi, roda, roda, roda e não sai do canto”.
As personagens agem de acordo com a tradição, sua ações são voltadas para a perpetuação, a prisão, a possibilidade negada de desvio, há vários momentos no filme que podemos observar comportamentos explicados pela tradição, como nas seguintes passagem: a tarja preta no braço do Tonho significa que ele está marcado para morrer; quando sangue exposto na camisa ficar vermelho de novo é tempo de matar; o pai impositivo que obriga o filho a matar outro em nome da honra da família; e etc.
È perceptível também o rompimento com essa tradição, por exemplo: quando no final do filme, o Tonho escolhe o caminho oposto ao que ele sempre fazia, ele está apontando para a mudança, rompendo com a mesmice de cada dia.

sábado, 6 de abril de 2013

Autores Simbolistas



Cruz e Souza
Como foi discutido na sala de aula o Simbolismo chegou ao Brasil em 1893, com a publicação das obras Missal (prosa) e Broquéis (poesia), ambos de autoria de Cruz e Sousa, e se estende até 1922, quando se realizou a Semana da Arte Moderna.
João da Cruz e Sousa é considerado o maior autor simbolista, foi apelidado de Dante Negro e Cisne Negro, pois era filho dos negros alforriados Guilherme da Cruz, mestre-pedreiro, e Carolina Eva da Conceição, sendo que mesmo sendo a metade da população brasileira não-branca, poucos foram os escritores negros, mulatos ou indígenas. O poeta Cruz e Sousa não conseguiu escapar das acusações de indiferença pela causa abolicionista. A acusação, porém, não procede, pois, apesar de a poesia social não fazer parte do projeto poético do Simbolismo nem de seu projeto particular, o autor, em alguns poemas, retratou metaforicamente a condição do escravo.

Principais características:
- No plano temático: a morte, a transcendência espiritual, a integração cósmica, o mistério, o sagrado, o conflito entre matéria e espírito, a angústia e a sublimação sexual, a escravidão e uma verdadeira obsessão por brilhos e pela cor branca;
- No plano formal: as sinestesias, as imagens surpreendentes, a sonoridade das palavras, a predominância de substantivos e o emprego de maiúsculas, utilizadas com a finalidade de dar um valor absoluto a certos termos
Seus poemas são marcados pela musicalidade (uso constante de aliterações), pelo individualismo, pelo sensualismo, às vezes pelo desespero, às vezes pelo apaziguamento, além de uma obsessão pela cor branca.[1] É certo que encontram-se inúmeras referências à cor branca, assim como à transparência, à translucidez, à nebulosidade e aos brilhos, e a muitas outras cores, todas sempre presentes em seus versos. Percebe-se em suas obras influências do simbolismo europeu, como satanismo de Baudelaire ao espiritualismo.
Além de Cruz e Sousa, destacam-se no Simbolismo Alphonsus de Guimaraens e Pedro Kilkerry.
 Alphonsus Guimaraens

Alphonsus Guimaraens, pseudônimo de Afonso Henrique da Costa Guimarães (Ouro Preto, 24 de julho de 1870Mariana, 15 de julho de 1921) foi um escritor brasileiro. Sua poesia é marcadamente mística e envolvida com religiosidade católica. Seus sonetos apresentam uma estrutura clássica, e são profundamente religiosos e sensíveis na medida em que explora o sentido da morte, do amor impossível, da solidão e da inadequação ao mundo.
Contudo, o tom místico imprime em sua obra um sentimento de aceitação e resignação diante da própria vida, dos sofrimentos e dores. Outra característica marcante de sua obra é a utilização da espiritualidade em relação à figura feminina, que é considerada um anjo, ou um ser celestial. Alphonsus de Guimaraens é simultaneamente neo-romântico e simbolista.
Sua obra, predominantemente poética, consagrou-o como um dos principais autores simbolistas do Brasil. Em referência à cidade em que passou parte de sua vida, é também chamado de "o solitário de Mariana", a sua "torre de marfim do Simbolismo".
Sua poesia é quase toda voltada para o tema da Morte da Mulher amada. Embora preferisse o verso decassílabo, chegou a explorar outras métricas, particularmente a redondilha maior (terminado em sete sílabas métricas).
Principais obras:
- Setenário das dores de Nossa Senhora (1899)
- Dona Mística (1899)
- Kyriale (1902)
- Pastoral aos crentes do amor e da morte (1923), entre outros.

Pedro Kilkerry

 Pedro Kilkerry foi um poeta simbolista brasileiro, descendente de inglêses por parte do pai, o engenheiro John Kilkerry, superintendente da Bahia Gás Company Limited, e da mestiça alforriada baiana Salustiana do Sacramento Lima.Portador de tuberculose pulmonar, faleceu durante uma traqueotomia, sem ter publicado nenhum livro, apesar de ter contribuído para alguns periódicos como Nova Cruzada e Os Anais. Seus poemas foram recolhidos em 1970 por Augusto de Campos, que o considera um dos precursores de nossa modernidade. Também é chamado de “o Gregório de Matos” daquele período da vida baiana.
As principais características da poesia de Kilkery são: uma sintaxe bastante elaborada, fantasias humorísticas, musicalidade, ou seja, ele representou outro lado do simbolismo, aquele mais radical, suas poesias eram difíceis e dependiam de concentração para serem entendidas. As obras de Kilkery foram colocadas como críticas da vanguarda.

Referências